sexta-feira, 9 de julho de 2010

CASO BRUNO - O QUE VOCÊ AVALIA: A "CAPA" OU O "RECHEIO"?


Nos últimos dias, o "caso Bruno" tem prendido a atenção de todos aos telejornais, rádios, internet, imprensa escrita e todo e qualquer meio de comunicação (inclusive o "jornal fofocal", o "Besteiragens News" e outros que nao tem dono, não tem redação mas estão na boca do povão). O mais interessante nesta história, depois de todo o horror produzido pelo grupo assassino do goleiro, é a forma como são questionadas as suas atitudes.
Entenda: Não estou falando do fato que as pessoas em geral (inclusive este que vos escreve) se revoltaram com o crime, ficaram enojadas, com raiva, tristes e toda forma de sentimento negativo, mas dos motivos nos quais pautam esta revolta.
Quase todo mundo que comenta a história, cita a riqueza, a fama e o sucesso do goleiro como principais motivos para a "surpresa" que tomou a todos de assalto por conta do crime. "Porque ele pôs tudo a perder? Porque matar se poderia pagar o que ela pedia? Porque arriscar uma vida de luxo, de sucesso e de grandeza por 3, 4 mil reais?". Incrível como quase ninguém sequer se lembra de que o crime vitimou uma mulher, que em toda esta história há uma criança de apenas quatro meses envolvida sem nem mesmo ter consciência disso, e várias familias (tanto a do goleiro como a da vítima e as dos envolvidos no ato cruel) tiveram suas vidas totalmente transformadas por este ato insano. Só se preocupam com o fato de o principal suspeito ser "um dos idolos da maior torcida do Brasil".
Isso, sim, me preocupa, e muito!
Preocupa porque mostra que o sistema conseguiu, de maneira quase (graças a Deus, quase) irreversível, instalar o virus da aparência exterior, da medição de caráter pelas posses, posição social ou sucesso que se tem. Nosso mundo globalizado e tecnicista está vencendo de goleada a necessidade de auto-conhecimento, de interesse pelo próximo, de se valorizar o ser HUMANO.
Vivemos num sistema onde tudo é avaliado pela "capa": a roupa que vestimos, a beleza fisica (por isso tantos cirurgiões plásticos estão milionários e um dos negócios mais rentáveis é a montagem de uma Academia), o carro que usamos, a mansão que possuimos (ou não, como é o meu caso), a conta bancária... quando esta capa vem também com as cores da fama e do sucesso, então, fica ainda mais atraente. O que ninguém avalia é o "recheio", ou seja, a pessoa que está por trás, por dentro ou simplesmente tomada por tudo isso.
Não estou aqui para fazer um tratado psicológico sobre os envolvidos neste crime bárbaro, mas para expressar a todos, ou pelo menos aos que lerem este post, o quanto é preocupante ver que nosso espanto, nossa surpresa e até nosso asco contra tudo isso se dá pelos motivos errados. Perguntamos porque uma pessoa RICA, marcada pelo SUCESSO, FAMOSA faz este tipo de coisa, e esquecemos de um detalhe que faz toda a diferença: que assim como nós, elas são GENTE, o bicho mais imprevisível e mais sujeito a desequilibrios da face da terra (senão do Universo, até que me provem o contrário).

PS: Algumas pessoas se revoltam quando chamo os envolvidos neste caso de "GENTE". "São animais insensiveis", dizem. No entanto, não ofendamos os pobres animais. Já viu uma onça matar porque a outra é mais bonita? Ou um leão abandonar seus filhotes (ou ainda matar a leoa, mãe deles)? Um cachorro abandona seu dono, morador de um casebre, para trocá-lo por alguém que conheceu ontem, apenas porque esta outra pessoa mora numa mansão? Os animais são melhores que nós. Não têm preconceitos e não sabem esconder quando gostam ou não de algo.
Nós, os safados "humanos" é que agimos assim, ok?


Se tirarmos o dinheiro, o poder, a fama destas pessoas, o que sobra? Você os avaliaria de forma diferente? Ou simplesmente os ignoraria? Se fosse um favelado, um assalariado, um gari, empregada doméstica ou algo parecido, toda esta história faria mais sentido? Talvez nem tivesse chance de se perguntar, porque o caso não seria alvo da mídia.
Em primeiro lugar, se dinheiro, cargo ou posição social revelasse quem é de fato uma pessoa, não teriamos padres ou pastores pedófilos, advogados cortadores de cabeça, politicos ladrões, policiais assassinos/traficantes, procuradoras da república que torturam crianças, filhos de delegados e empresários de sucesso que estupram meninas de 14 anos... e nem atletas psicopatas.
Mesmo assim, insistimos e basear nossas avaliações sobre os outros geralmente nestes "certificados de pedigree".
Os grandes golpistas da atualidade sabem disso. Quantos não se apresentam nos sites de relacionamento mostrando suas "credenciais" de milionário ou pelo menos de poder (tendo-os ou não) para conquistar "um grande amor", e depois roubam ou mesmo MATAM as incautas vitimas, que se apaixonam pelo envelope e não leem a carta que vem dentro dele? Quantos politicos não se apresentam como pessoas honestas, bem-sucedidas, inteligentes, formado nisto ou naquilo, e depois são alvos de matérias que os apontam como corruptos, assassinos, ladrões... Os golpistas sempre conseguem conquistar suas vitimas, e os politicos acabam eleitos porque? Porque NÓS pensamos do jeito que eles querem que a gente pense, porque nós também acreditamos no poder, na fama, no sucesso, e os buscamos como sinônimos de "FELICIDADE".
Nem pensamos que, independente de dinheiro, casa, carro, posição social ou algo parecido, estamos sempre diante de seres humanos, cujas mentes estão sujeitas a traumas, manias, doenças... que têm um coração sujeito a emoções negativas, mágoas, tristeza, raiva... que passam por uma educação que pode conduzí-las a serem pessoas maravilhosas ou monstros. Você, eu, o Bruno, o Macarrão, o casal Nardoni, o Guilherme de Pádua, a Suzane von Richthofen não somos diferentes na essência. Nós também podemos ser tão ou mais cruéis que cada um destes criminosos famosos. Mas pode apostar que muita gente abriu as portas para eles pelo que possuiam, e não fariam o mesmo por "gente como a gente". No abrir esta porta, quantos não correram sérios riscos...?
Não foi isso que fez a jovem Eliza, que via no glamouroso mundo do futebol tudo o que "ela sempre sonhou"? Não foi por isto que ela se envolveu com o goleiro? E por fim, não foi esta a causa de sua morte? Agora a defesa dos "bem sucedidos" assassinos querem transformá-la em uma "reles"garota de programa, conhecida por Bruno numa orgia. E o que ele estava fazendo lá? (Não respondam...rsrsrs). O que estes advogados nem imaginam é que esta garota apenas procurava, como tantas pessoas deste mundo, a tão sonhada felicidade. E, como tantas outras, procurava no lugar errado, com as referências equivocadas. Ela se encantava com mitos, não com as pessoas. O mito a seduziu, e a pessoa por trás do mito a matou.
Se ela soubesse se relacionar com gente, saberia que o melhor seria ficar distante deste rapaz, que também procurava ser feliz, mas seus conflitos, sua história de vida, as mágoas geradas pelo abandono dos pais e tantos outros infortúnios não deixavam. Nem toda a fama do mundo consegue suprir uma alma dilacerada pelas memórias negativas.
Só quem busca o pleno conhecimento de si consegue o milagre do autocontrole. Bruno sabe muito bem como defender gols, mas não tem a menor idéia de como é por dentro, de como reagir às adversidades, de como superar contrariedades.
No dia em que cada pessoa deste mundo der mais valor a si mesma, no dia em que valorizar o autoconhecimento em primeiro lugar, e não fatores externos, no dia em que souberem como lidar com seus próprios monstros internos, e não tentá-los sufocar com luxo, riqueza, bebida, comida, posses em geral, aí sim, teremos um mundo bem mais feliz, mais justo, com mais paz.
Os crimes cessarão? Talvez sim, talvez não... mas pelo menos ocorrerão em menor escala, e antes mesmo que a mídia dispute audiência para tentar explicá-los, todos já terão plena consciencia dos porquês presentes no fato. Quando nos conhecemos, conhecemos aos outros.

Outro PS: Vale dizer que ninguém aqui é contra a riqueza, uma boa vida, a alegria de se poder pagar pelo que se deseja ter ou fazer. Só acreditamos que o que faz uma pessoa realmente feliz não está nestas coisas, mas em sua capacidade de se compreender, se aceitar, se perdoar... e isso é que deveria torná-la especial também para os outros.


Que se faça justiça no "caso Bruno". E que tiremos desta história lições para nossas almas.

"Minha querida alma, seja fonte de autoconhecimento, autocontrole e, acima de tudo, amor próprio"

Um comentário:

  1. Parabéns por ser uma das pouquíssimas pessoas a expressar o que realmente deveria está sendo percebido por todos.
    Me sinto melhor por saber que existe alguem neste país que pense de tal maneira.

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