domingo, 29 de setembro de 2013

UM BOCADO DE SAL

Todos enfrentamos, cedo ou tarde, momentos difíceis. Da mesma forma, não há quem não passe, às vezes, por situações em que a tristeza passa a imperar. Não é incomum que isso aconteça comigo, e acredito que com você também. O que pode ser diferente é a forma como cada pessoa age diante deste grande desafio, o de reconhecer e dar resposta favorável aos momentos negativos.
Sempre que estou passando por isso, gosto de relembrar esta história, que é antiga, não tem autoria definida, mas serve para qualquer pessoa que queira mudar a forma de encarar seus dissabores. É apenas uma das tantas que ajudam a sair do lugar comum na hora de buscar energias para o enfrentamento, e força para lidar com qualquer sensação limitante.

"Um jovem que enfrentava momentos difíceis, e estava sucumbindo à tristeza, conversava com um velho mestre sobre seus problemas. O homem o ouviu atentamente, e ao invés de falar qualquer coisa pediu a ele que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
- Qual é o gosto? - perguntou.
- Ruim. - disse o jovem sem pensar duas vezes.
O Mestre sorriu e pediu ao rapaz que pegasse outra mão cheia de sal e fosse com ele ao lago que havia no mosteiro. Os dois caminharam em silêncio, e quando chegaram lá o ancião mandou que o sal fosse jogado no lago, sendo imediatamente obedecido.
Logo após veio nova ordem:
- Beba um pouco dessa água.
O jovem assim o fez e, enquanto a água escorria do seu queixo, o Mestre perguntou:
- Qual é o gosto?
- Bom! - o jovem disse sem pestanejar.
- Você sente o gosto do sal?
- Não, não senti esse gosto.
O Mestre então sentou ao lado dele, pegou em suas mãos e disse:
- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem em detrimento ao que ao que você perdeu. Em outras palavras: É deixar de ser copo, para tornar-se um Lago."

Minha querida alma, seja fonte de clareza e criatividade para lidar com sentimentos limitantes

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DE QUE MODO VOCÊ TENTA MOTIVAR QUEM TE CERCA?

Sempre que me informam que haverá, em algum lugar, um "curso motivacional", geralmente fico preocupado. Não foram poucas as oportunidades em que acompanhei (ou até ministrei, no começo de minha 'carreira' de instrutor de PNL) palestras, cursos ou reuniões com o objetivo de "incentivar a galera", "acordar as lideranças" ou "sensibilizar os funcionários para a importância de uma boa produtividade na empresa, escola, prefeitura, etc...".
Quase sempre, os resultados eram os mesmos: dos participantes, uma boa parte sequer ouvia, via ou sentia o que estava sendo passado (iam porque eram obrigados ou poderiam perder algum benefício), outra questionava bastante a necessidade do encontro e uma boa parte (a maioria, por sinal) saía "acesa" do evento, mas poucos meses ou até dias depois já estavam novamente apresentando o mesmo índice de motivação que tinham antes. Isso quando não faziam exatamente o oposto do que foi repassado.
O interessante disso tudo é que não há nada de errado com o que foi ensinado, e tampouco com quem recebeu as informações. A falha está na forma como toda a proposta é apresentada, e, não raras vezes, o jeito com que patrões, pais ou lideranças tentam manter a "chama" em alta. Em geral, usam palavras e atos que interferem em algo essencial para que as pessoas queiram mudar: a AUTONOMIA de cada uma delas.
E está mais que provado, através até de pesquisas (que não vou elencar aqui por não ter a menor intenção de tornar este texto cansativo):  Tentar dizer aos outros o que eles devem fazer ou como eles devem agir faz com que, na maioria das vezes, ocorra o efeito contrário.
E a melhor maneira de se conseguir esse resultado indesejado é usar, durante as abordagens, sentenças que contenham palavras como "deve", "precisa", "é necessário", "é proibido", "não pode", "tem que" "isso é perigoso", "Isso é ruim", dentre outras!
Pense: Quantas vezes você falou para seus empregados, colaboradores, alunos ou filhos: "Não pode" fazer isso, "deve" fazer aquilo, "tem que" obedecer, etc... e ele(a) acabou fazendo exatamente o que você não queria que fosse feito? São muitos os exemplos que existem perto de cada um de nós, com certeza.
Isso acontece porque todos os seres humanos (com raras exceções), até mesmo crianças, sem entender muito do que é a vida, carrega consigo uma característica especialíssima: não gostam de ser tolhidos em sua liberdade. A isso, chamamos de Lei da Reatância Psicológica. Em palavras mais diretas, significa simplesmente que quando somos obrigados ou impedidos de fazer algo, sem o direito de escolha, nossa mente reage ao que foi imposto, e isso se reflete em nossos atos.
No trabalho não é diferente. "Você deve entender que sua função exige mais esforço que o que esta apresentando". "Nós precisamos fazer este trabalho com alegria". "Temos que alcançar esta meta, senão...". É só ouvir estas frases e "bum!", nossa mente reage imediatamente de maneira negativa, como se dissesse (mesmo que não percebamos). "Quem decide isso sou eu". "Ninguém manda em mim". Ou perguntasse: "E se eu não quiser fazer isso?". E aí não importa se é "algo bom", se "é correto", ou se "vai ser legal" o que nos é ordenado. Muito menos se "é perigoso", se "é ruim", ou "é pecado" o que nos é proibido (não é à toa que a máxima "Tudo que é proibido é mais gostoso" tem sido repetida ao passar dos séculos).
Quer motivar de fato? Então você pode seguir as seguintes premissas:
- Ninguém é obrigado a fazer nada. Não "tem que", não "deve"... A escolha é sempre do sujeito.
- Todos nós já possuímos motivação suficiente. Basta ter respeitada a liberdade para acessá-la e ter um "mapa" para seguir, não como ordem, mas como sugestão.
Eis a grande sacada! Todos querem o direito de escolher seu caminho, mesmo que com poucas opções apresentadas, ou pelo menos tentar encontrar alternativas, mas com base em seus desejos, e não por força de um ofício ou memorando.
Nós agimos de acordo com os nossos próprios motivos, e estes são internos, pessoais, intransferíveis. Ajudando a pessoa a descobrir isso, damos um passo essencial para que ela própria encontre razões para atender ao que é solicitado. Posso tentar fazer com que um pedreiro construa uma casa popular com altíssima qualidade em tempo recorde, recebendo o salário que estou oferecendo, apenas afirmando que ele vai estar promovendo a alegria de uma família carente. Se internamente ele não tem nada que ligue a essa motivação, de nada vai adiantar meu esforço, mas se descubro que motivos ele pode ter para QUERER fazer o que estou pedindo (não por mim, mas por ela), então temos 99% do caminho andado.
Como fazemos isso? Primeiro fazendo a pessoa descobrir que razões ela teria para querer mudar, e isso se consegue com perguntinhas simples: "O que poderia te fazer querer mudar? E...Porque você pode querer mudar?". Conseguidas estas respostas, vindas do interior da pessoa, basicamente basta deixar claro que a decisão desta mudança ou de optar por algo que está sendo oferecido é totalmente dela, ou seja, reforçar (ou simplesmente resgatar) a sua autonomia. "Essas são as idéias apresentadas, mas, claro, a escolha final para fazer o que é proposto é sua".
Quando temos a consciência de que estamos "escolhendo" algo, e não sendo obrigados a seguir para isso, a probabilidade de que "topemos o desafio" fica infinitamente maior.
Claro que isso não significa esquecer que há consequências. Se determinada atitude, que poderia ser diferente, interfere no trabalho, no estudo, na saúde, no bem-estar de alguém, ou o sujeito acha interessante enveredar pelo mundo do crime, por exemplo, pode-se muito bem incluir na conversa que optar pela continuidade do padrão vai levar a algumas perdas (como a do emprego, da vida, da liberdade...), e ter outras atitudes podem produzir ganhos. Lembrando sempre que nenhuma destas informações será passada como ameaça. Independente disso, ainda assim a escolha é de quem queremos motivar, e não nossa. Entendido?
Isso serve inclusive para nós mesmos. Imagine que você queira iniciar um programa de exercícios, para ter mais disposição, saúde, um corpo mais leve... Você sabe que não precisa começar hoje, nem amanhã, nem daqui a duas semanas. Mas ao aceitar que não precisa fazer nada disso, pode começar a se perguntar porque poderia querer mudar, e a partir daí estabelecer uma data para começar (se quiser).
Em outros posts, falo um pouco mais sobre este tema tão interessante, com mais dicas pra você.

"Minha querida alma, seja fonte de autonomia e liberdade"

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