segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ONDE ESTÁ A MAGIA?

Ontem resolvi acompanhar um joguinho de futebol que garotos resolveram fazer numa das ruas de Poço Fundo. Estava um pouco cansado, apesar de ser um domingo (algo normal para quem trabalha com reportagens) e resolvi dar uma caminhada quando os encontrei.
Foi então que notei que um dos jogadores mal pegava na bola, e parecia estar totalmente à margem do jogo. Com essa mania de me meter onde não sou chamado (e que muitas vezes me causa problemas, mas em outras traz alegrias), perguntei a ele porque não "ia pra cima", não pedia a bola. "Tô só completando o time. Não sei jogar direito", ele respondeu, com as mãos para trás.
No entanto, era nítido o seu desejo de participar mais do jogo, e não resisti: tratei de incentivá-lo, principalmente quando a bola vinha em sua direção. Não adiantou muito, já que ele muitas vezes ia com medo para a jogada e, quando acertava algum chute, geralmente acabava alvo de chacotas: "Pé torto", "perna de pau!", "chuta direito, cara!". Isso o deixava ainda mais envergonhado.
Então resolvi fazer algo diferente. Chamei ele de lado e disse baixinho: "Quer uma dica pra arrebentar nesse joguinho aí?". Ele não estava muito animado, mas insisti. O garoto então disse "sim" com a cabeça.
Nem sabia o que ia fazer direito, mas mandei-o esperar e fui a um bar próximo. Pedi um pedaço de papel e fiz um rabisco parecido com um "R9", como uma assinatura, e escrevi em cima: "Do amigo Ronaldo. Vá e mostre o que sabe!". Coloquei o papel dentro de um plástico, voltei e o chamei de novo. Disse que fui à minha casa e peguei um presente pra ele. "Este é um autógrafo do Ronaldo Fenômeno, quando estava pra ir pra Seleção pela primeira vez. Meu sobrinho treinava no Cruzeiro e ganhou quando ainda era pequeno. Quando ele colocava esse papel na caneleira, arrasava no jogo. Quer pra você?". Os olhos do menino brilharam. Deu pra ver que sua respiração ficou mais acelerada e a pele corou. Botou o papel plastificado dentro do meião e imediatamente começou a pedir a bola. Alguns dos coleguinhas ainda resistiram, mas um deles lhe fez um passe...
E não é que o garoto fez um golaço?
Depois disso, passou a ter mais confiança, jogou o que sabia e ainda acabaram as brincadeiras de mau gosto com ele. Fui embora e nem vi o restante da partidinha, que deve ter durado horas (pelo menos quando eu era criança funcionava assim). O fato é que esse menino mostrou que sabia, sim, jogar, e um dia irá descobrir que a magia não tinha nada a ver com o papel que lhe dei.

3 comentários:

Translate