Tudo o que eu queria era brincar de Tarzan com meus amigos. O barranco da linha férrea, nosso ponto de encontro favorito para as brincadeiras que iam de bang bang ao zorro, estava à nossa espera. Estranhamente, meu velho não quis deixar... Ele, na verdade, nunca se preocupou muito para onde eu ia ou deixava de ir. Achava até que nem ligava muito pra mim...mas naquele dia foi enfático. "Não vai, ou apanha". Lembro-me bem da cena. Meu pai, já arcado pelo peso dos anos, puxando o cinto para me atingir. Eu, na minha leveza dos 11 anos de idade, saindo em desabalada carreira para encontrar minha turma. Imaginava que depois, como sempre acontecia, bastava se esconder atrás da minha mãe e... pronto, tudo estava resolvido. Só não contava com a boa pontaria do velho... Um pedaço de telha, jogado a uma distância de 15 metros... e lá estava eu no chão, atingido em cheio no calcanhar. O pé inchou na hora, a dor era insuportavel. Vêm meus tios correndo e me socorrem, xingam meu pai, chama...