Engraçado como algumas lembranças parecem "acordar" a gente... É fácil perceber como certas atitudes, que pareciam inofensivas num determinado período, com o passar do tempo se tornam maléficas, e nem percebemos que isso está acontecendo. Minha infância não era das mais abastadas (eu diria, nem um pouco abastada), mas a gente se virava como podia. Eu odiava miudezas (de boi e de aves), mas naquela época era a única forma da gente dizer que comia "carne". E eu afirmava que "adorava", apenas pra deixar feliz quem, com muito esforço, só conseguia isso: meu pai, lutando para se aposentar, e minha mãe, batalhadora mas sem emprego fixo. Volta e meia, quando o dinheirinho da roça sobrava, era possível comprar um frango. Ou o dito cujo era mesmo um dos que criávamos no quintal, escolhido a dedo pelo meu velho. Depois de cozido, todos nós já sabíamos: os melhores pedaços iriam para o pai, e depois a mãe dividia o restante com os filhos. Eu via que a minha genit...